Porongo
Pra quem não conhece, assim que nasce uma cuia para
o chimarrão.
o chimarrão.
A ERVA-MATE E O PORONGO
O Porongo, propriamente dito, já era conhecido pelos Índios Guaranis
no ano de 1580, quando então receberam os Jesuítas de Manoel da Nóbrega
que prontamente se apresentaram para vir ao Guairá. Eles serão os
pioneiros da Companhia de Jesus no Paraguai, eles, os Jesuítas da
província de Portugal. Sofreram rivalidades e acusações infundadas,
prisão, ferro e humilhações.
Estiveram quase perto de Porto Alegre, pois andaram na Aldeia dos
Anjos (hoje Gravataí), foram embrulhados devidamente pelo astuto Cacique
Anjos, e só desistiram do sul porque eles iam fatalmente entrar em
choque de interesses com os Jesuítas Castelhanos, que desde Lima, Peru,
avançavam pelo sul e para o leste.
Pois foi no Guairá que os Jesuítas encontraram a "Erva do Diabo", uma
droga que tirava o cansaço dos índios e fazia com que não sentissem a
fome e até excitava-os sexualmente.
Era muito fácil fazer o tal chá. Primeiro, os índios colhiam a erva
no mato ("Caa", em Guarani, quer dizer tanto mato como erva), sapecavam
ligeiramente as folhas com os restinhos dos galhos segados, amarravam um
feixe com essas ramas por cima do fogo e alí ficava tudo, balanceando e
ressecando devidamente. Quando as folhas estavam estalando e se
rachando, era só socá-las num pilão de madeira dura com um toco longo,
fino e cabeçudo, chamado de "Mão de Pilão." Tinha-se assim, e em menos
de uma semana, erva pronta para o preparo do tal chá Guarani.
Era assim: O índio pegava o fruto
de uma planta (Legionária Vulgaris, uma das cucurbitáceas, portanto
parente da velha abóbora campeira) chamada de "Porongo", em forma de
oito. À parte de cima, a parte menor do oito, era cortada e deixada
para secar. Então ficava pronta a cuia, recipiente do tal chá.
PLANTIO
O plantio do porongo se dá nos meses de Julho, Agosto, Setembro e raramente em Outubro.
A primeira colheita se faz no mês de Janeiro quando o Porongo já está
lorando (ficando maduro) e pronto para ser raspado manualmente ou no
escovão de aço, permitindo assim uma cor amarelada. Nesses casos, o
Porongo deve ter uma atenção redobrada no processo de secagem para não
"xuringar" (encolher, retorcer-se), outra maneira é deixar o Porongo
secar na lavoura, aonde a colheita se faz lá pelo mês de maio,
permitindo uma secagem uniforme e homogenia.
Começa aí, o processo de beneficiamento do Porongo para transformá-lo em
cuia.
BENEFICIANDO O PORONGO
Após a colheita, corta-se o Porongo na parte de cima, separando-se a
cuia da parte de baixo do Porongo, chamada de "Bunda do Porongo."
Já com a cuia extraída do Porongo, coloca-se a mesma em estaleiro e a
sombra onde circula corrente de ar, para não rachar e perder seu cheiro
característico. Após isso, em primeiro lugar fura-se o centro da cuia
retirando do seu interior, o bagaço mole até chegar na parede dura da
cuia, após, lixa-se a aba ou bocal e seu interior deixando-a bem
lisinha.
A parte do acabamento fica por conta de uma boa cera de polir, em um
motor de alta rotação para dar brilho uniforme. Temos então, uma cuia
lisa e polida.
A CUIA
A cuia dentre os apetrechos do mate, é a mais cantada e declamada
pelos poetas sulinos. A cuia, que deve ser sempre de Porongo e,
prefencialmente, o Porongo grosso ou doce, é o recipiente mais adequado
para o Mate ou chimarrão do gaúcho, já que não modifica o seu sabor, não
permite que a erva fique lavada precocemente, e não alterando ainda, a
temperatura da água.
Existem cuias, confeccionadas de outros materiais, tais como madeira,
barro cozido, porcelana, vidro e até de plástico, que foram diferentes
tentativas de se buscar outros recipientes para o mate, em períodos
diversos da história. Tentativas essas que restaram frustradas, já que
nenhum se mostrou capaz de competir com o velho Porongo, descoberto
pelos Índios Guaranis e conservado hediornamente, como vasilha ideal
para o mate, cujo plantio é intensificado ano após ano, já que o hábito
de matear continua fazendo adeptos.
ESCOLHENDO UMA BOA CUIA
Para se escolher uma boa cuia, quer para chimarrão, quer para
mate-doce, deve-se primeiramente levar em consideração o tipo de Porongo
"Casco Grosso e Doce" que é de uma variedade mais apropriada ao mate.
Se para matear sozinho, uma cuia pequena, para matear duas ou três
pessoas, uma cuia média, para matear em rodas de chimarrão, usa-se uma
cuia grande.
COMO CURAR SUA CUIA DE PORONGO
Para curar a cuia de Porongo, é necessário que a mesma seja cheia
antes do seu uso, com água quente, não fervida, e cinza de lenha de
fogão ou lareira, para eliminar fungos ou bactérias, evitando mofo e
ainda, enrijecer o casco, deixando-se por aproximadamente 24 horas,
completando-se a água sempre que absorvida pelo Porongo até o bocal da
cuia. Após, a cuia deve ser lavada em água corrente deixando-se secar
por 72 horas, na sombra e em local ventilado. Finalmente, colocam-se
novamente, duas a três colheres de sopa de erva-mate nova de sua
preferência e água quente (não fervida) para não trincar ou rachar a
cuia, e para curtir a cuia parelha.
Após, novamente, deixa-se secar por mais 48 horas; o ideal é repetir o processo por duas ou três vezes.
CONSERVANDO SUA CUIA DE PORONGO
Uma cuia bem curada é um processo que deve durar de 12 a 15 dias,
exigindo-se muito cuidado e carinho, pois esta não pode cair no chão,
não deve ficar exposta ao sol, e deve ser bem lavada e enxugada com um
pano de algodão.
Para se conservar uma cuia de Porongo sempre boa, sem azedar ou
alterar o gosto do mate, é necessário tomar alguns cuidados, tais como:
Primeiramente, a cuia não deve ser envernizada ou pintada externamente,
deve ser polida com cera para dar brilho natural ao Porongo.
A cuia depois de curada, não pode ser usada diariamente, de forma
contínua. O ideal, é que se use a cuia em um dia e outro não, deixando
sempre secar em local arejado e na sombra, não podendo ficar com a boca
para baixo, para não mofar.
Fonte: 500 Anos de História da Erva-Mate. Dorival
Berkai e Airton Braga, Editora do Cone Sul, 3ª ED. História do
Chimarrão Barbosa Lessa / Sulina Porto Alegre - RS 1986
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