A Carta à Igreja em Esmirna
Durante o período em que Paulo ficou em Éfeso, na sua terceira viagem evangelística, “todos os habitantes da Ásia” ouviram
o evangelho de Jesus (Atos 19:10). Pedro incluiu os eleitos e
forasteiros da Ásia entre os destinatários de sua primeira carta (1
Pedro 1:1). É bem possível que a igreja em Esmirna, uma cidade situada
aproximadamente 65 km ao norte de Éfeso, esteja incluída nestas
citações. Mas, a primeira vez que ela é identificada por nome é nas
citações no Apocalipse. Por isso, não temos informações específicas
sobre esta igreja, além dos quatro versículos desta carta ao anjo da
igreja em Esmirna. O pouco que sabemos é positivo. Esta carta elogia e
encoraja, sem oferecer nenhuma crítica dos cristãos em Esmirna.
Ao Anjo da Igreja em Esmirna (Apocalipse 2:8-11)
A igreja em Esmirna
(8): Hoje conhecida com Izmir, a terceira maior cidade da Turquia e o
segundo mais importante porto do país, Esmirna era uma cidade antiga de
uma região habitada durante milhares de anos antes de Cristo. A antiga
cidade foi destruída pelos lídios em 600 a.C. e reconstruída pelos
gregos no final do 4º século a.C. A cidade ganhou nova vida, e pode ser
descrita como uma cidade que morreu e tornou a viver. Durante o domínio
romano, Esmirna se tornou um centro de idolatria oficial, conhecida como
Guardião do Templo (grego, neokoros). Foi a primeira cidade da Ásia a
construir um templo para a adoração da cidade (deusa) de Roma (195
a.C.). Em 26 d.C., foi escolhida como local do templo ao imperador
Tibério. Foram descobertas imagens, na praça principal da cidade, de
Posêidon (deus grego do mar) e de Deméter (deusa grega da ceifa e da
terra).
Na
época do Novo Testamento, Esmirna provavelmente tinha uma população de
aproximadamente 100.000. Por ser um porto excelente, facilitando o
comércio entre a Ásia e a Europa, era uma cidade próspera.
Estas coisas diz o primeiro e o último (8): Jesus começa esta carta com as palavras de 1:17, frisando a sua eternidade.
Que esteve morto e tornou a viver
(8): Quase igual a afirmação de 1:18, esta frase destaca a vitória
sobre a morte na ressurreição. Na situação dos discípulos de Esmirna,
encarando perseguições difíceis, seria especialmente importante lembrar
da ressurreição de Jesus. O Senhor deles não fracassou diante da morte;
ele a venceu! Eles, sendo fiéis, teriam a mesma esperança.
Conheço a tua tribulação
(9): Jesus, no meio dos candeeiros, viu o sofrimento de seus
seguidores. Da mesma maneira que ele se compadeceu dos angustiados na
terra durante o seu ministério (veja Marcos 1:41), ele olhou com
compaixão para aqueles que sofriam em Esmirna. Mesmo assim, ele não os
poupou de toda a dor, como veremos no versículo 10. A palavra
“tribulação”, aqui, significa pressão que vem de fora.
A tua pobreza (mas tu és rico) (9):
Apesar de morarem numa cidade próspera, os cristãos em Esmirna eram
pobres. Provavelmente sofriam discriminação por causa da fé, e assim se
tornaram pobres. É bem possível, também, que tivessem sacrificado seus
recursos em prol do evangelho, como os macedônios fizeram para ajudar os
irmãos necessitados alguns anos antes (veja 2 Coríntios 8:1-9). Mas a
pobreza material não tem importância quando há riqueza espiritual (veja 3
João 2). A situação dos discípulos em Esmirna era muito melhor do que a
da igreja em Laodicéia, que se achava rica apesar de sua pobreza
espiritual (3:17).
A blasfêmia dos falsos judeus
(9): Blasfemar é falar mal. Freqüentemente, refere-se a blasfêmia
contra Deus. Aqui, porém, a blasfêmia é um aspecto do sofrimento dos
crentes em Esmirna. Esta difamação veio de pessoas que se chamavam
judeus mas, de fato, não eram verdadeiros judeus. Os judeus, que tiveram
uma sinagoga em Esmirna, perseguiam os cristãos. Ao invés de serem
verdadeiros judeus e descendentes espirituais de Abraão (veja João
8:39-47; Romanos 2:28-29), eram servos de Satanás, o principal mentiroso
e acusador dos fiéis (12:9-10; João 8:44).
Não temas as coisas que tens de sofrer
(10): O conforto oferecido por Jesus não é o livramento do sofrimento.
Ele anima os discípulos em Esmirna a não desistirem diante das
tribulações que viriam logo. Covardes não têm esperança em Cristo
(21:8). Pessoas que fogem da sua responsabilidade diante de Jesus por
medo de sofrer não são dignas da comunhão com ele. Pessoas que ensinam
que o servo fiel será próspero e livre de sofrimento nesta vida não
acreditam nas palavras que Jesus mandou à igreja em Esmirna!
O diabo está para lançar em prisão alguns dentre vós (10): O diabo é visto como a fonte da perseguição. Alguns seriam presos, provavelmente aguardando julgamento e possível morte.
Para seres postos à prova, e tereis tribulação de dez dias
(10): O efeito da tribulação seria o de provar a fé desses cristãos. A
sua lealdade a Cristo seria testada sob ameaças de morte. Mas a
perseguição não continuaria para sempre. Dez dias sugere um tempo curto
mas completo. Seria uma provação completa, mas teria um fim.
Por
ter vínculos tão fortes com a idolatria oficial de Roma, Esmirna se
tornou uma cidade perigosa para os cristãos. Esta carta fala sobre
perseguições que viriam. Até décadas depois do Apocalipse, perseguições
atingiram seguidores de Cristo na cidade.
Sê fiel até à morte
(10): O fim desta perseguição, para alguns, poderia ser a própria
morte. Mesmo assim, deveriam ser fiéis. Às vezes, arrumamos qualquer
desculpa para não fazer algo que Deus pede. Mas nada, nem a nossa
própria vida, deve ser mais importante do que a nossa fidelidade a Deus.
E dar-te-ei a coroa da vida
(10): A palavra “coroa” (grego, stephanos) refere-se à coroa de
vitória. A coroa da vida vem de Deus, o único que pode dar a vida (veja
João 5:26; 14:6; 1 João 1:1-2). Aqueles que amam a vinda de Jesus
receberão a coroa da justiça (2 Timóteo 4:8).
Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas (11): Como em todas as cartas às igrejas, Jesus chama os destinatários a ouvirem a sua mensagem.
O vencedor (11): Aqueles que permanecem fiéis diante das perseguições são vencedores com Cristo.
De nenhum modo sofrerá dano da segunda morte
(11): Não sofreria o castigo eterno (20:6,14; 21:8). Os perseguidores
poderiam até causar a primeira morte, mas os fiéis não sofrerão a
segunda morte (veja Mateus 10:28).
Conclusão
Morar
em Esmirna no primeiro século não seria fácil para o discípulo de
Jesus. Além das perseguições pelos judeus, eles enfrentavam uma ameaça
mais organizada e mais poderosa. A idolatria oficial, juntando a
religião à força do governo, prometia uma perseguição perigosa aos
cristãos da cidade, tentando-os a abandonarem a sua fé para melhorar as
suas circunstâncias ou até para evitar a morte violenta. Para vencer
esta tentação, teriam que acreditar no poder daquele que já venceu a
morte. Mesmo se morressem, as suas vidas eternas seriam garantidas
somente se mantivessem sua confiança no eterno Senhor, “o primeiro e o último, que esteve morto e tornou a viver”.
– por Dennis Allan
Nenhum comentário:
Postar um comentário