A mulher, entre os judeus, era não mais que um
objeto pertencente ao marido, como seus servidores, suas edificações e
demais posses legais. Ela devia ao esposo total lealdade, mas, por
princípio, era considerada como naturalmente infiel, desvirtuada e
falsa. Por esta razão, sua palavra diante de um juiz não tinha
praticamente valor algum.
Embora ela fosse obrigada a ser fiel ao matrimônio, o marido não
tinha os mesmos deveres matrimoniais. Além de tudo, ele podia rejeitá-la
por qualquer motivo, mesmo que, legalmente, não pudesse negociá-la como
qualquer outra propriedade. Dificilmente a esposa poderia, por
iniciativa própria, se desligar do casamento.
Uma mulher envolta em laços conjugais não podia jamais ser
contemplada por outro homem, ou por ele ser abordada, mesmo que fosse
para uma simples saudação. No interior da sociedade judaica, ela ocupava
uma posição bem inferior à do homem. Até na esfera espiritual a mulher
era considerada desigual, e para ela estava reservado um local à parte
no templo, assim como era obrigada a caminhar, na rua, distante dos
homens.
Legalmente ela era proibida de tudo e estava constantemente submetida
a todas as punições civis e penais imagináveis, sujeita até mesmo à
pena capital. Também nos momentos das refeições a mulher era isolada,
pois ela não podia se alimentar ao lado dos homens. Assim, ela
permanecia em pé, pronta para ajudar o marido a qualquer instante.
Normalmente as mulheres viviam reclusas em suas residências e as
janelas, quase sempre, eram construídas com grades para que elas não
pudessem ter seus rostos vislumbrados pelos passantes nas ruas. Se um
homem tentasse se dirigir a uma mulher, cometia um pecado muito sério.
Por esta breve visão já é possível perceber o quanto Jesus, em sua
época, revolucionou o tratamento oferecido pelos homens às mulheres. Um
dos episódios mais chocantes do Evangelho é justamente aquele no qual
Ele se dirige à mulher samaritana. Este povo era aguerrido adversário
dos hebreus, desde a cisão entre as tribos de Israel.
Assim, ao se revelar claramente como o Messias para alguém desta
comunidade, especialmente a uma mulher, Ele deixou tanto samaritanos
quanto judeus perplexos. Além disso, Jesus mantinha, entre seus
discípulos e seguidores, diversas mulheres, entre elas, Maria Madalena,
vista com preconceito pelos judeus, que a consideravam uma traidora de
seus princípios, como uma prostituta.
Não bastando isso, Ele curava indistintamente homens e mulheres, e
procurava integrar socialmente aquelas que tinham sido excluídas. Ele
até mesmo perdoou a mulher adúltera, a qual os judeus costumavam
apedrejar até a morte. E foi justamente uma mulher que testemunhou sua
Ressurreição, embora até os discípulos mais fiéis de Jesus encarassem
suas palavras, inicialmente, com desvelado ceticismo.
Na época, mesmo a mulher não sendo infiel ao esposo, se este fosse
dominado pelo espírito do ciúme, como está descrito na lei mosaica, sob o
título de ‘A Oferta do Ciúme’, ele poderia levá-la diante do sacerdote,
mesmo sem nenhum testemunho ou flagrante, e realizaria então esta
oferta ritual. Desta forma, ela ficaria para sempre marcada e
amaldiçoada diante da sociedade judaica.
Fontes:
José Carlos Leal. Maria Madalena. A Testemunha da Paixão. Léon Denis Gráfica e Editora, Rio de Janeiro, 2009.
http://www.ceallankardec.org.br/NO%20TEMPO%20DE%20JESUS.htm http://www.rmesquita.com.br/oito.htm
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